quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Com a palavra as coordenadoras

O campo do patrimônio cultural possui longa tradição no Brasil, constituindo-se como foco de atenção das políticas públicas nacionais desde finais dos anos 1930, com a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN).  Se até princípios da década de 1980 a ênfase dessas ações era dada, de forma centralizada, à preservação do patrimônio arquitetônico e de caráter monumental, desde então essas políticas têm se voltado para novos objetos, como a cultura popular, as intervenções contemporâneas sobre as cidades e os conhecimentos tradicionais, por exemplo. 

Nesse sentido, levando em consideração que os conceitos e ações afeitos ao campo do patrimônio cultural conformam-se historicamente, faz-se necessário compreendê-los no contexto em que se realizam, percebendo as permanências e transformações que os caracterizam e seu caráter construído e inventado.  Configurando-se como processos em que são atribuídos, voluntariamente, sentidos e valores a determinados bens e manifestações culturais, as ações relativas ao patrimônio cultural dizem respeito à garantia do direito à memória e à diversidade, movimento que não se realiza sem conflitos e disputas. 

Nesse contexto, as concepções fundamentais que orientam os debates sobre a temática dizem respeito sobretudo à dimensão simbólica que sustenta a produção deste campo de conhecimento e ação, no qual as noções de memória, história e identidade alimentam-se mutuamente e produzem as interfaces necessárias à compreensão dos significados do patrimônio cultural na contemporaneidade e do seu papel na constituição de ações que afetam a vida de grande quantidade de pessoas no país e no mundo.

Executadas não só pelo poder público federal, mas também através de políticas estaduais e municipais, as ações voltadas à salvaguarda do patrimônio cultural disseminam-se ainda, e cada vez mais, entre a sociedade civil. Há que se destacar, nesse sentido, a crescente demanda por formação nesta área no âmbito dos quadros técnicos que atuam nas políticas municipais de patrimônio, que vêm se consolidando significativamente nos últimos anos. Todas estas transformações sugerem importantes questões à reflexão acadêmica, que por seu turno se volta cada vez mais para esta problemática, em variadas áreas do conhecimento, como a História, a Antropologia, o Turismo, o Direito, as Artes, dentre outras. 

Há que se privilegiar, assim, a produção de reflexões tanto sobre os conceitos quanto sobre ações concretas que orientam o campo do patrimônio cultural, atentando-se para o contexto no qual se realizam e para as transformações que os vêm caracterizando nas últimas décadas, fundamentando possíveis caminhos para a atuação qualificada dos profissionais que procuraram sua especialização através deste curso.

O curso pretende, através do diálogo e aproximação entre memória, identidade e contemporaneidade, provocar reflexões que perpassem as diversas áreas de saber que constituem o campo do patrimônio cultural, em sintonia com a própria natureza do nosso objeto de estudo.  Levando em consideração, portanto, essa dimensão transdisciplinar, o curso foi estruturado tomando por referência, ainda, o caráter de articulação constante entre a reflexão e a prática, que orientam as ações no campo do patrimônio.  Para tanto se investiu significativamente em disciplinas voltadas para a pesquisa que, ao longo dos três módulos, se articularão às disciplinas teóricas, às visitas técnicas e seminários, com vistas a proporcionar uma reflexão crítica e aproximação do campo teórico, tendo como base as expressões do patrimônio cultural em suas distintas esferas.

O curso está organizado em três módulos, assim distribuídos: no primeiro é privilegiada a apresentação da história, dos conceitos e das bases legais que sustentam o campo do patrimônio cultural nacional e internacionalmente, além de terem início as discussões sobre metodologia de pesquisa com objetivo de fundamentar a preparação dos trabalhos iniciais de cada disciplina, pensando na construção do trabalho de conclusão do curso; no segundo módulo serão abordadas  as diversas facetas que compõem o campo do patrimônio cultural, aprofundando a formação metodológica para pesquisa em patrimônio cultural, já definindo objetos e projetos de pesquisa; e para finalizar, no terceiro módulo, serão trazidos os principais instrumentos de ação no campo do patrimônio cultural e seus possíveis desdobramentos, indicando-se as principais perspectivas que orientam o campo do patrimônio cultural na contemporaneidade e suas interfaces com os objetos de pesquisa dos alunos.

O curso de Especialização em Patrimônio Cultural objetiva, portanto, possibilitar a compreensão das dimensões e interfaces que compõem o campo do Patrimônio Cultural, visando à qualificação de profissionais de diversas áreas de conhecimento para atuação no setor, capacitando-os à pesquisa, educação e salvaguarda do patrimônio cultural.

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