domingo, 31 de outubro de 2010

TAMBOR DE CRIOLA

DOC IPHAN BUMBA BOI

Adolf Hitler: "Arquitetura da Destruição" (2/12)

Adolf Hitler: "Arquitetura da Destruição" (1/12)

Pesquisa mapeia hábitos culturais do paulista

Por Blog Acesso


Se voltarmos no tempo à procura de pesquisas sobre a cultura, encontraremos estudos esparsos, comprovando que o mapeamento cultural no Brasil é uma atividade recente. Mais do que uma atividade, uma política recente, que possibilita conhecer as deficiências e pontos fortes da área cultural. Aos poucos, são descobertas as variações sobre a existência de cinemas nos municípios, o quantitativo de bibliotecas formais e sua distribuição pelo país e até mesmo sobre os hábitos culturais do brasileiro, que vemos mudar a cada nova série histórica. Para além de informar, esses dados acabam atuando como bússolas para a elaboração de políticas públicas. No entanto, o desenvolvimento de pesquisas ainda não segue uma constante, o que torna preciosas ações como a investigação patrocinada pela CPFL Energia para mapear os hábitos culturais da população paulista.
A ideia da pesquisa foi desenvolvida pela J. Leiva Cultura e Esporte; os questionários, abordagens e compilações dos resultados ficaram a cargo do Datafolha; e a análise das informações coube à Fundação Getúlio Vargas – FGV. Da união de três empresas com especialidades complementares surgiu a pesquisa, parcialmente apresentada ao público no último dia 21 de outubro, no seminário Como investir em cultura. Realizado na Estação Pinacoteca (SP), o evento reuniu especialistas renomados do setor cultural para o debate das principais questões destacadas no estudo.
Dados da pesquisa
Ao todo, foram ouvidas 2.214 pessoas, de 82 cidades do Estado de São Paulo, entre 24 de agosto e 20 de setembro de 2010. Alguns dos resultados, você confere agora:
O que é cultura?
•    Para 30% dos entrevistados, cultura é um conjunto de atividades culturais, como teatro, cinema e música; 22% relacionaram a cultura à educação, como um processo de aprendizado; 18% acham que a cultura engloba atividades de lazer e entretenimento; 9% responderam que a cultura é a identidade, a história e a tradição de um povo; 7% disseram que cultura era conhecimento e saber; 6% associaram o conceito a acesso, direito à cultura, lazer e educação; e 5% entendem a cultura como costumes e hábitos.
•    Independente do nível econômico e da formação educacional, o paulista, de forma geral, considera a cultura como algo importante.
•    Música (13%), carnaval (12%) e futebol (10%) aparecem como os três ícones da cultura brasileira, na opinião dos paulistas.
•    Quando a pergunta é o que melhor representa o Estado de São Paulo, os eleitos são teatro (6%), música (6%) e futebol (5%).
•    56% dos entrevistados já participaram de alguma atividade cultural: teatro (34%), coral/canto (21%), dança/balé (19%), música instrumental (17%), exposição de artes (14%), banda/grupo musical (12%), circo (3%) e cinema (3%). A pesquisa revela ainda que as instituições de ensino – escolas e faculdades – são as principais responsáveis por proporcionar o contato com atividades culturais. Sendo que teatro, dança/balé, música instrumental, exposição de artes e banda/grupo musical são atividades mencionadas, principamente, por pessoas das classes A e B, entre 12 e 25 anos, que cursam os ensinos médio e superior.
•    Entre as atividades culturais que costumam realizar, 97% ouvem música e 87% assistem filmes no DVD.
•    Na divisão por gêneros, os homens preferem cinema, shows, rodeios e turismo ecológico; enquanto as mulheres mencionaram livros e espetáculos de dança – o que inclui as apresentações dos filhos na escola.
Infra-estrutura e acesso – Cultura nas pequenas, médias e grandes cidades
•    Os moradores de cidades de pequeno porte são mais críticos com relação à falta de equipamentos culturais, principalmente de cinema, de teatro e de museus.
•    84% dos habitantes acham que as cidades deveriam ter um número maior de espaços para a prática de atividades culturais.
•    38% revelam ir a outras cidades para participar de atividades culturais.
Economia da Cultura, informação e indicadores
•    16% dos entrevistados conhecem o Vale Cultura.
•    84% gostaram do conceito do Vale Cultura e 80% têm intenção de usar o benefício.
•    Com o que gastariam o Vale Cultura: CDs de música (47%); cinema (44%); DVDs de show ou filmes (39%); livros não didáticos (28%); ingressos para teatro (26%); ingressos para shows/concertos musicais (24%); jornais e revistas (15%); turismo cultural (13%); ingressos para rodeios/festa do peão (13%); ingressos para museus (11%); ingressos para circo (7%); ingressos para espetáculos de dança/balé (7%); não usariam o Vale Cultura (3%).
Acesso pergunta: se essa pesquisa fosse feita na sua cidade, os resultados seriam muito diferentes?

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Entrevista sobre o Museu da Pessoa

Erick Krulikowski – a história contada por pessoas comuns

Por Blog Acesso

No clássico da literatura Em busca do tempo perdido, o escritor Marcel Proust cria um ambiente impregnado de memórias que ajudam o personagem principal a perceber sua própria identidade. Os conceitos construídos em forma de narrativa mostram a importância da memória para quem busca decifrar a verdade e reforçam a máxima de que se aprende com o passado. Quase um século depois, o Museu da Pessoa concretiza os conceitos sugeridos na obra de Proust, registrando as memórias de gente comum, com o intuito de criar uma rede de “histórias de vida capaz de contribuir para a mudança social”. Para entender um pouco mais sobre a concepção e o trabalho do Museu, o Acesso entrevistou Erick Krulikowski, coordenador de Comunicação e Mobilização de Recursos do Museu da Pessoa.

Acesso – O Museu da Pessoa foi criado em 1991, quando ainda não se falava muito em patrimônio imaterial ou mesmo em museus digitais. Como surgiu o conceito do Museu?

Erick Krulikowski – A ideia do Museu da Pessoa surgiu a partir de um projeto de pesquisa da Karen Worcman, diretora do Museu, sobre a imigração judaica no Brasil durante e após a Segunda Guerra Mundial. Com o estudo, ela detectou que esses imigrantes vinham para o Brasil, portando somente a roupa do corpo e suas histórias de vida. Esse diagnóstico fez a Karen pensar nas histórias de tantas outras pessoas que nunca seriam conhecidas, porque a memória social não contemplava as pessoas comuns. Foi daí que partiu a ideia de construção do Museu da Pessoa,.

Acesso – Como se articula essa história “alternativa”, baseada na memória de pessoas comuns, com a História oficial?

E. K. – Nosso maior interesse não é encontrar uma verdade definitiva, mas contar uma história levando em consideração a memória das pessoas, suas diferentes visões. As histórias de pessoas comuns incorporam dimensões humanas sensíveis e afetivas, apresentando um ângulo que vai além do oferecido pela historiografia. O que fazemos é utilizar os fatos como marcos, empregando testemunhos pessoais para dar mais humanidade aos fatos. Afinal, quando se fala da importância de registrar essas histórias, automaticamente se fala da importância que cada uma dessas pessoas tem para a construção da sociedade.

Acesso – O Museu desenvolveu uma metodologia própria de entrevista e de arquivo deste material?

E. K. – As entrevistas fazem parte do nosso acervo museológico e, como em todo museu, precisamos tratar esses documentos. Primeiro, os registros são salvos em formatos de vídeo, áudio e texto, e passam por backups, que vão garantir que não se percam; na sequência, analisamos e editamos os depoimentos com a intenção de criar uma narrativa, que poderá ser transformada em livro, exposição ou documentário.

Acesso – O conceito de registro da memória de pessoas comuns pode servir ao fortalecimento da identidade de diversos grupos sociais. Vocês costumam compartilhar a metodologia proprietária com outras instituições?

E. K. – Auxiliamos as organizações que nos procuram a desenvolver seus próprios produtos. Mas para ampliar ainda mais o acesso à nossa metodologia, publicamos dois livros que explicam todo o processo de organização de um projeto de memória. Queremos que as instituições se apropriem da metodologia e possam utilizá-la da forma mais adequada às suas necessidades, seja para a retomada da memória ou para a revitalização da comunidade ou da cidade em questão. É importante lembrar que quando se fala do passado é inevitável que se faça uma reflexão sobre o momento presente. Esse movimento é capaz de provocar mudanças na maneira de pensar e de ver o futuro. Além dos livros, promovemos uma oficina, chamada “Marcos coletivos”, na qual os participantes buscam, juntos, estabelecer os fatos importantes que aconteceram em sua cidade ou comunidade. Quando eles chegam a esses marcos, entendem melhor os eixos de sua própria história e os caminhos que seguem no presente. Oficinas como essa despertam os sentimentos de pertencimento e de coletivo.

Acesso – Sob o ângulo da economia da cultura, esse resgate pode contribuir para a revitalização de determinada região?

E. K. – Na verdade, a questão da memória como contribuinte para o desenvolvimento de um grupo é uma das mais discutidas no momento. Reflete-se sobre como fazer uma leitura de determinada comunidade que a leve a caminhos adequados. Percebemos que esse desenvolvimento econômico só se torna completo quando associado às questões humanas. Para isso, é preciso investir em educação cultural, em programas educativos de resgate da memória.

Acesso – Existem outros museus como o Museu da Pessoa no mundo?

E. K. – Hoje existem três núcleos internacionais do Museu da Pessoa, em Portugal, nos Estados Unidos e no Canadá, originados da ideia brasileira. Cada um deles tem sua especificidade e autonomia de ação, mas compartilham os mesmos conceitos.

Acesso – O que mudou nos quase 20 anos de atuação do Museu? E quais as perspectivas para o futuro de um museu construído com base em memórias pessoais?
E. K. –
Vivemos uma mudança de concepção, na qual a memória passa a ser mais democrática. Um espaço de produção coletiva como o Museu da Pessoa mostra que as pessoas comuns também fazem parte da história como atores de um processo social. Há 20 anos, falar em história de vida soava estranho e enfrentamos o desafio de explicar a importância do registro de histórias de gente comum. Hoje, as novelas abordam histórias do cotidiano, os jornais exploram o tema, e a própria tecnologia permite, com os blogs e microblogs, que as pessoas contem fatos de suas vidas. Entre os desafios para os próximos anos, está a busca por outras leituras dessas memórias que ampliem o conhecimento. A cultura não deve ser encarada como uma relíquia guardada, até porque ela só existe se for transmitida.

Priscila Fernandes e Luíza Costa / blog Acesso


http://www.blogacesso.com.br/?p=3376

O conhecimento e suas diferentes formas

Pessoal,

estou compartilhando a apresentação de nossa última aula.

Elisa

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Os limites do patrimônio

Pessoal,

gostaria de sugerir um texto e, a partir de um trecho dele, uma provocação.

O texto é:

GONÇALVES, José Reginaldo Gonçalves. Os limites do patrimônio. In: LIMA FILHO, Manuel Ferreira; ECKERT, Cornelia; BELTRÃO, Jane Felipe (Org.). Antropologia e patrimônio cultural: diálogos e desafios contemporâneos. Blumenau: Nova Letra, 2007. p. 239-248.

Vou postá-lo no grupo para quem se interessar =)

Fica um excerto do mesmo, para iniciar uma discussão nesse espaço do blog:

"Em um recente debate internacional sobre patrimônios culturais, pude ouvir de um dos interlocutores uma afirmação provocativa: “... antes do saque, não havia patrimônio no Egito”. Sugere-se nessa perspectiva que, antes da chegada do imperialismo e do saque dos objetos tradicionais, levados para coleções particulares e para os acervos dos grandes museus ocidentais, não haveria “patrimônio” nas sociedades colonizadas. O chamado patrimônio teria passado a existir exatamente como efeito do saque.
Evidentemente, aos ouvidos dos antropólogos, isto soa quase como uma heresia, desafiando abertamente um dos princípios básicos da moderna disciplina da antropologia social ou cultural: a crítica sistemática ao etnocentrismo. Como é possível que uma sociedade humana não disponha de um patrimônio cultural? Não seria o patrimônio uma categoria de pensamento presente em toda e qualquer comunidade humana?
No entanto, em seu evidente exagero, aquela proposição aponta para um aspecto extremamente importante: a distinção entre as representações da categoria patrimônio nas grandes civilizações, nas chamadas “culturas primitivas”, e as transformações que ela sofre nos contextos históricos e culturais da modernidade, marcados pela vida nas grandes metrópoles, por uma complexa divisão social do trabalho, pela especialização e pelo predomínio da economia monetária. O fato de estarmos lidando com uma categoria universal – e, nesse sentido, presente em toda e qualquer coletividade humana – não nos exime absolutamente de qualificá-la em termos culturais e históricos. Afinal, nosso acesso às categorias não é possível se não por meio de suas atualizações culturais e históricas."

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Com a palavra as coordenadoras

O campo do patrimônio cultural possui longa tradição no Brasil, constituindo-se como foco de atenção das políticas públicas nacionais desde finais dos anos 1930, com a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN).  Se até princípios da década de 1980 a ênfase dessas ações era dada, de forma centralizada, à preservação do patrimônio arquitetônico e de caráter monumental, desde então essas políticas têm se voltado para novos objetos, como a cultura popular, as intervenções contemporâneas sobre as cidades e os conhecimentos tradicionais, por exemplo. 

Nesse sentido, levando em consideração que os conceitos e ações afeitos ao campo do patrimônio cultural conformam-se historicamente, faz-se necessário compreendê-los no contexto em que se realizam, percebendo as permanências e transformações que os caracterizam e seu caráter construído e inventado.  Configurando-se como processos em que são atribuídos, voluntariamente, sentidos e valores a determinados bens e manifestações culturais, as ações relativas ao patrimônio cultural dizem respeito à garantia do direito à memória e à diversidade, movimento que não se realiza sem conflitos e disputas. 

Nesse contexto, as concepções fundamentais que orientam os debates sobre a temática dizem respeito sobretudo à dimensão simbólica que sustenta a produção deste campo de conhecimento e ação, no qual as noções de memória, história e identidade alimentam-se mutuamente e produzem as interfaces necessárias à compreensão dos significados do patrimônio cultural na contemporaneidade e do seu papel na constituição de ações que afetam a vida de grande quantidade de pessoas no país e no mundo.

Executadas não só pelo poder público federal, mas também através de políticas estaduais e municipais, as ações voltadas à salvaguarda do patrimônio cultural disseminam-se ainda, e cada vez mais, entre a sociedade civil. Há que se destacar, nesse sentido, a crescente demanda por formação nesta área no âmbito dos quadros técnicos que atuam nas políticas municipais de patrimônio, que vêm se consolidando significativamente nos últimos anos. Todas estas transformações sugerem importantes questões à reflexão acadêmica, que por seu turno se volta cada vez mais para esta problemática, em variadas áreas do conhecimento, como a História, a Antropologia, o Turismo, o Direito, as Artes, dentre outras. 

Há que se privilegiar, assim, a produção de reflexões tanto sobre os conceitos quanto sobre ações concretas que orientam o campo do patrimônio cultural, atentando-se para o contexto no qual se realizam e para as transformações que os vêm caracterizando nas últimas décadas, fundamentando possíveis caminhos para a atuação qualificada dos profissionais que procuraram sua especialização através deste curso.

O curso pretende, através do diálogo e aproximação entre memória, identidade e contemporaneidade, provocar reflexões que perpassem as diversas áreas de saber que constituem o campo do patrimônio cultural, em sintonia com a própria natureza do nosso objeto de estudo.  Levando em consideração, portanto, essa dimensão transdisciplinar, o curso foi estruturado tomando por referência, ainda, o caráter de articulação constante entre a reflexão e a prática, que orientam as ações no campo do patrimônio.  Para tanto se investiu significativamente em disciplinas voltadas para a pesquisa que, ao longo dos três módulos, se articularão às disciplinas teóricas, às visitas técnicas e seminários, com vistas a proporcionar uma reflexão crítica e aproximação do campo teórico, tendo como base as expressões do patrimônio cultural em suas distintas esferas.

O curso está organizado em três módulos, assim distribuídos: no primeiro é privilegiada a apresentação da história, dos conceitos e das bases legais que sustentam o campo do patrimônio cultural nacional e internacionalmente, além de terem início as discussões sobre metodologia de pesquisa com objetivo de fundamentar a preparação dos trabalhos iniciais de cada disciplina, pensando na construção do trabalho de conclusão do curso; no segundo módulo serão abordadas  as diversas facetas que compõem o campo do patrimônio cultural, aprofundando a formação metodológica para pesquisa em patrimônio cultural, já definindo objetos e projetos de pesquisa; e para finalizar, no terceiro módulo, serão trazidos os principais instrumentos de ação no campo do patrimônio cultural e seus possíveis desdobramentos, indicando-se as principais perspectivas que orientam o campo do patrimônio cultural na contemporaneidade e suas interfaces com os objetos de pesquisa dos alunos.

O curso de Especialização em Patrimônio Cultural objetiva, portanto, possibilitar a compreensão das dimensões e interfaces que compõem o campo do Patrimônio Cultural, visando à qualificação de profissionais de diversas áreas de conhecimento para atuação no setor, capacitando-os à pesquisa, educação e salvaguarda do patrimônio cultural.